Crônica: A águia e o pato

Crônica: A águia e o pato

cabeca-ricchetti Crônica: A águia e o pato

Meu tio avô Hermínio Ricchetti sempre foi envolvido na política. Se consultarem os anais da minha cidade natal, São Manuel, e as lutas para implantação de escolas, melhoria do comércio, clubes etc. sempre verão a sua participação.

Quando ele se mudou para a capital não foi diferente. Aqui em São Paulo era muito amigo do Cunha Bueno, pessoa integra, difícil de encontrar hoje na política, que participou ativamente em várias legislaturas do Congresso Nacional.

Numa das vezes em que o Cunha Bueno estava lançando mais uma campanha de reeleição ele convidou meu tio para uma reunião em sua casa no bairro do Pacaembu e lá fui eu, com meus 10 ou 11 anos de idade, à tira colo.

A reunião seria no salão de festas de sua casa e estavam prevendo recepcionar umas 50 pessoas. Assim haviam dispostos um número condizente de cadeiras, para que todos se acomodassem.

image-9 Crônica: A águia e o pato

Chegamos cedo e logo que adentramos o salão fui afoito procurar um lugar na primeira fileira, onde me sentei. Meu tio, não me disse nada e apesar de haver ainda muitas cadeiras vazias ele se postou em pé, bem atrás da última fileira.

Quando o salão já estava todo lotado, com muitas pessoas em pé, por ter comparecido muito mais gente que o esperado, chegou um dos convidados ilustres, que era nada mais que o Consul Americano.

Como não havia mais lugares disponíveis, o então anfitrião Cunha Bueno veio até mim e educadamente cochichou no meu ouvido pedindo que eu cedesse o lugar para o Consul. Com isso me levantei e fui me juntar ao meu tio que continuava em pé lá trás, depois da última fileira.

Não me esqueço até hoje do que meu tio me disse naquele dia:

  • “Meu sobrinho, aprenda que é melhor ficar na última fileira e ser convidado a se sentar na primeira, do que ao contrário.”

Dias depois ele me presenteou com um livrinho com várias historinhas que recomendou que lesse, para aprender algumas lições, sendo que a primeira que li complementou o aprendizado daquele dia, na casa do Senador, pois falava exatamente sobre orgulho e vaidade.

Esse livrinho, infelizmente, se perdeu no tempo, mas a historinha ficou gravada na minha memória e se bem me lembro era mais ou menos assim:

A ÁGUIA E O PATO

Dois filhotes, um de águia e o outro de pato eram grandes amigos.
Um dia o pato afirmou com grande segurança que as corujas eram muito mais rápidas que as águias, no que foi contestado imediatamente pela pequena águia.
Depois de muita e acalorada discussão, sem chegarem a uma conclusão, o filhote de águia sugeriu que fossem perguntar ao seu experiente pai que deveria saber a resposta.
Assim que chegaram junto ao papai águia o pato perguntou:

  • Quem é mais rápido? A águia ou a coruja?
    O papai águia olhou, até com certo desdém, para o pato e respondeu:
  • A coruja!
  • Kkkkkkkk! Não lhe disse meu amigo gaviãozinho que as corujas são muito mais rápidas? Ralhou o pato todo orgulhoso e prepotente.
    Em seguida virou as costas e se retirou…
    Assim que o pato saiu, o filhote de águia perguntou ao pai:
  • Papai, todo mundo sabe que as águias são muito mais rápidas que qualquer coruja. É uma verdade incontestável! Por que você disse a ele que as corujas são mais rápidas?
    O papai águia, olhando fixamente para seu filho, respondeu:
  • Filhote, todo mundo sabe que as águias são muito mais rápidas que as corujas, menos esse patinho!
    Nunca discuta com pessoas orgulhosos e prepotentes como este pato!
    Os vaidosos e prepotentes, são aqueles que acham que são donos da verdade, sempre se preocupam só em ter razão e agem com o intuito principal de serem admirados por isso.
    Eles querem sempre estar em primeiro lugar e acham que sabem tudo.
    Deixe o ego e a vaidade para aqueles que só têm isso para exibir.

José Luiz Ricchetti – 23/08/2021

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thiagomelego

Jornalista por tempo de serviço, Radialista, Administrador, tecnólogo em Recursos Humanos. Estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

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