O Buquê de rosas – por José Luiz Richetti

O Buquê de rosas – por José Luiz Richetti

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Cheguei em Lisboa, Portugal, para morar, no dia 11 de setembro de 2001. Foi durante o meu voo para a Europa que aconteceram aqueles trágicos ataques às torres gêmeas em New York.

Assim que desembarquei, me defrontei com aquela confusão no aeroporto, lotado de soldados e policiais.

Os jornais das TVs entrevistavam autoridades, todas ainda desnorteadas e sem saber até onde iriam as ameaças terroristas, e se os ataques se restringiriam ao solo americano ou se eles envolveriam também outros países do ocidente.

Assim que cheguei a Lisboa, me instalei no hotel Sheraton, perto ali da ‘rotunda’ do Marques de Pombal e aos poucos fui conhecendo melhor a cidade e buscando um apartamento onde pudesse morar.

Quem me ajudou muito neste período, foi a Helena, prima de um amigo, uma brasileira que já morava lá por vários anos. Foi ela quem me ensinou a entender as diferenças culturais de Portugal e quem também me ajudou a encontrar um bom apartamento para morar.

Recordo que no primeiro dia, quando ela foi até o hotel para me encontrar, e nos vimos pela primeira vez, notei que ela tinha uma fisionomia triste, mas não sabia porquê.

Helena tinha uns 35 anos, era muito bonita e simpática e somente muito tempo depois, é que soube que ela recém havia perdido o marido, num trágico acidente de carro na A1, uma das principais rodovias de Portugal.

Aos poucos fomos nos conhecendo e acabamos nos tornando grandes amigos, até o ponto, de ela me confidenciar um fato, que tinha acontecido com ela, logo na primeira semana, após o falecimento do marido.

Esta pequena história, após ter me trazido um grande aprendizado, é que me levou a reproduzi-la aqui, procurando ser o mais fiel possível à sua narrativa.

‘Certo dia, logo após Helena sair do trabalho, passando em frente a uma loja de roupas masculinas, perto de sua casa, teve o ímpeto de entrar e começar a olhar as gravatas…

Seu marido sempre adorou as gravatas daquela loja e muitas vezes, quando ele ainda era vivo, costumavam entrar na loja, só para ele poder ver, admirar e, às vezes até experimentar uma daquelas gravatas. Mas ele nunca saiu de lá com nenhuma delas, pois sempre achava tudo muito caro. 

Ao lado da loja de roupas, tinha uma floricultura e todas as vezes em que isso acontecia, o marido da Helena acabava não comprando a gravata, mas não deixava de lhe presentear com um buquê de rosas. Ele sabia que ela adorava rosas e fazia questão de toda vez lhe comprar um buquê.

vezes, depois, que chegavam em casa, colocavam as rosas num pequeno vaso de cristal, que a Helena tinha herdado da mãe e o colocavam sobre a mesa da sala de jantar, para enfeitar a casa.

Naquele dia, quase duas semanas depois do falecimento do marido, sem mesmo saber porque, a Helena, ao passar em frente à loja de roupas sentiu o coração extremamente apertado, e decidiu entrar na loja e finalmente comprar uma daquelas caras gravatas.

Ela queria escolher uma, bem colorida, ao gosto do marido, como se ele estivesse ali com ela, numa daquelas vezes em que entravam para admirar as gravatas.

Parecia ser uma loucura, fazer aquilo, já que ela não teria uso nenhum para aquela peça, mas a sua perda recente, fez com que batesse uma saudade imensa e lhe viesse aquele impulso louco de entrar lá e comprar a gravata.

Por mais inútil que pudesse parecer aquele seu ato ele se tornou, naquele momento, algo tão forte que se sobrepôs a qualquer razão.

Na realidade, Helena já tinha percebido que fazer qualquer coisa, sem a companhia do marido, mesmo que fosse o simples ato de ir a um supermercado, ou a um shopping, por exemplo, para fazer compras, tinha se tornado algo extremamente difícil e doloroso.

Com todos esses pensamentos povoando sua mente, ela entrou decidida na loja e começou a olhar aqueles expositores com várias gravatas, até parar em frente a um conjunto de gravatas coloridas que lhe pareceu ser de acordo com o gosto do marido.

Enquanto perguntava o preço ao vendedor e admirava a enorme variedade de cores e estampas, ela notou bem ao seu lado uma jovem, que também parecia estar em busca de uma gravata para presente.

A jovem devia ter uns 20 anos no máximo, era morena e estava muito bem vestida, dentro de um conjunto azul turquesa, que combinava com a cor de seus olhos.

Ela então reparou, que a jovem tinha pego uma daquelas gravatas, examinado com detalhes para logo em seguida, meio que relutante, a depositar de volta no balcão.

Assim que a jovem, percebeu que estava sendo observada, olhou para ela e comentou, sorrindo:

– Meu noivo adora essas gravatas, mas com esse preço, não sei se levo…

Helena então, engolindo sua emoção e fitando bem, aqueles olhos azuis da jovem, respondeu:

– Meu marido faleceu há dez dias. Se eu fosse você comprava a gravata para seu noivo. A gente precisa aproveitar os bons momentos, pois nunca sabemos por quanto tempo teremos as pessoas que amamos ao nosso lado.

A jovem olhou para ela, meio que assustada, talvez por não esperar ouvir aquele tipo de comentário, pegou a gravata do balcão de volta, se dirigiu ao caixa, pagou e saiu.

Passados alguns minutos, enquanto Helena ainda relutava qual gravata comprar, ela viu a mesma linda garota morena, entrar na loja novamente, e caminhar na sua direção, segurando um lindo buquê de rosas.

A jovem, então, parando em frente a Helena lhe disse:

– Estava procurando por você! Lhe trouxe estas rosas! O seu comentário me fez pensar muito. Eu tinha discutido com meu noivo na noite anterior e suas palavras me fizeram repensar o valor de se aproveitar os bons momentos da vida e as pessoas que amamos.

Ainda assustada e congelada com aquele gesto da garota e sem sequer ter tempo de dizer o quanto representava para ela aquele lindo buquê de rosas, ela viu a jovem se inclinar, lhe dar um beijo na face e desaparecer em seguida.

Imediatamente a emoção tomou conta e suas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto, sem que ninguém da loja pudesse entender o que estava se passando.

Helena procurou então se controlar, enxugou as lágrimas, e olhando para aquele lindo buquê de rosas, ficou pensando como tudo aquilo, podia estar acontecendo.

A loja, a jovem, a gravata, o buquê…. Tudo aquilo lhe parecia absolutamente surreal.

Como a jovem soube das rosas?

De repente, viu um pequeno cartão no meio do laço, que envolvia o buquê. Abriu e assim que o leu, percebeu que tudo tinha ficado muito claro. O bilhete da jovem dizia:

‘O que você disse me tocou o coração.

Alguém soprou nos meus ouvidos que você gostava de rosas.

Fique com Deus! Beijos’

Ao ler aquele bilhete ela percebeu que seu marido, como um anjo, tinha estado ali para intuir a linda jovem a lhe dar aquele buquê de rosas……..’

Esta pequena história mexeu comigo de tal modo, que naquela noite, tive muita dificuldade para dormir.

Fiquei um tempão pensando naquela linda história e os ensinamentos que me trouxe, mostrando como a nossa vida é breve e como é importante aproveitar os momentos felizes e a presença das pessoas queridas que amamos.

Como é importante sabermos que a vida não é perfeita, mas que vale a pena continuar vivendo os bons momentos, com essas pessoas que queremos bem, apesar dos desafios e das inúmeras perdas, que ficam pelo caminho.

Afinal, quem sabe, se algum dia, não aparece alguém e nos presenteia com um lindo buquê de rosas?

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thiagomelego

Jornalista por tempo de serviço, Radialista, Administrador, tecnólogo em Recursos Humanos. Estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

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