A invasão do Tibete pela China provocou o êxodo, para países como Índia e Nepal, de milhares de monges e camponeses que julgaram ter seus direitos usurpados pelos novos donos de sua terra. Hoje, são mais de 120 mil tibetanos vivendo no exílio.
Numa dessas minhas viagens pelo oriente, visitei a cidade de Dharamsala encastelada como um ninho de águia nas encostas do Himalaia, no noroeste da Índia, que é o principal centro de refugiados tibetanos.
Para as crianças e jovens, inclusive os que perdem seus pais na travessia entre o Tibete e a Índia, foi construída a Vila das Crianças Tibetanas, um misto de escola e residência onde se ensina a educação formal do Tibete.” São cerca de 1.700 alunos nessa vila.
Foi lá que tive contato com um professor, monge tibetano que me contou esta simples e emocionante história, que guardei como uma das grandes lições da vida.
Em visita a cidade um educador americano programou uma visita ao diretor da escola da Vila das Crianças, com o objetivo de conhecer o sistema de ensino e trocar experiências.
Recebido pelo monge, o professor americano, acostumado com o luxo e conforto da sua vida nos Estados Unidos ficou muito surpreso logo ao entrar na sala que o monge tinha apenas um pequeno e humilde escritório, que também lhe servia de quarto.
Era um cômodo muito simples, com uma pequena prateleira com livros, uma modesta mesa de madeira num dos cantos, com uma cadeira de braços com acento de palha e um banco de madeira bem baixo, na lateral de uma das paredes, abaixo da janela e uma cama singela com estrado.
Curioso e espantado o educador foi logo perguntando ao monge tibetano:
– Onde estão seus móveis? Você trabalha e dorme aqui?
Calmamente, o velho monge, sem qualquer surpresa com o questionamento do professor americano, levantou os olhos e calmamente respondeu com uma outra pergunta:
– E onde estão os seus móveis, professor?
– Os meus? Mas eu estou aqui só de passagem!
– Pois é, eu também, respondeu o monge…
José Luiz Ricchetti – 27/02/2023
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