A primeira namorada, por José Luiz Ricchetti

Agora não me lembro como tudo começou, talvez na troca de um olhar, num simples sorriso ou num encostar de braços, mas só sei que você estava lá e do nada virou minha primeira namorada.

Agora quero de novo, me aproximar novamente e lhe dizer que já gostava de você antes mesmo de lhe conhecer.

Agora quero de novo, vê-la falar, quero ficar em rubor, mesmo que seja só por um comentário bobo, sobre a matéria ou professor.

Agora quero de novo, tremer e suar frio quando, você chegar perto, falar, sorrir ou então quando, só nos tocarmos pelos dedos, um leve resvalo e você só me olhar, mesmo sem dizer nada, ficar ali muda, calada.

Agora quero de novo, ir na sessão do cinema, ficar de mãos dadas, ali no escurinho, talvez mesmo, só para ver seu olhar, seu sorriso doce e maroto, quando tento lhe abraçar.

Agora quero de novo, namorar escondido, na esquina, a dois quarteirões de sua casa, longe da vista do seu pai, bravo e ciumento, o mesmo que talvez nunca deixe ninguém, perto de você chegar ou só esbarrar.

Agora quero de novo, lhe comprar balas de hortelã para chuparmos juntos, naquele banco do coreto, perto do vai e vem, no jardim da minha cidade, mesmo que no frio da manhã.

Agora quero vê-la de novo, perto da escola, olhar seu sorriso, seus lindos cabelos ao vento, enquanto fica comigo, deixando a hora passar, segura seus cadernos, sem pensar se falta pouco tempo, para a aula começar.

Agora quero de novo, tomar um vermute doce, antes de lhe tirar para dançar, na brincadeira de uma tarde de domingo, no clube ou na casa de uma amiga, para então depois, comermos juntos, à noite, um ‘bauru’, no reservado de um bar.

Agora quero vê-la de novo, na missa das dez, quero estar lá, junto ao coro da igreja, ali no mesmo altar, só para lhe ver cantar.

Agora quero ver de novo, aquele seu olhar, vê-la cochichar com a melhor amiga, enquanto me olha de canto, sem sequer desviar o olhar.

Agora quero de novo, receber o correio elegante, no baile, sem saber se é seu, mas já com a certeza, quando quem traz o bilhete, meia sem jeito, é a sua amiga do peito.

Agora quero de novo, tomar quentão, com ou sem idade, comer pipoca, dançar quadrilha, tudo junto e misturado na linda quermesse da nossa cidade.

Agora quero sair de novo, no mesmo bloco de carnaval, vestir quase igual, dançar e cantar que cachaça não é água não, ver quanto riso e quanta alegria e ainda lhe beijar na boca, no meio de mais de mil palhaços no salão.

Agora quero de novo, ter muito ciúmes, ao ver você olhar meio de lado, flertando um outro, que também quer ser seu namorado.

Agora quero de novo, trabalhar na véspera da procissão de Corpus Christi, naquele frio da madrugada, enrolados no mesmo cobertor, sentados no mesmo chão, tomando cachaça e quentão no gargalo, passado de mão em mão.

Agora quero vê-la de novo, de véu branco na cabeça, acompanhando a procissão, na sexta feira da paixão, de vela acesa na mão.

Agora quero sair de novo, da piscina do Tênis Clube, carregando sua toalha enrolada, comprar pipoca, morder um quebra queixo e comer junto aquela geleia cheia de cores mas embaçada.

Agora quero correr de novo, com você, debaixo da chuva, ficar todo molhado, e manter o nosso tempo parado, tomando em seguida um bom sorvete gelado.

Agora quero mandar de novo, flores no dia do seu aniversário, estar lá, cantar parabéns, ajudar a cortar o bolo e receber o primeiro pedaço e depois esperar ansioso nossos amigos gritarem ‘com quem será’, sem ver na frente algum outro adversário.

Agora quero compartilhar de novo, com você minhas músicas, quero tocá-las no violão e depois deitado na cama, quero chorar de emoção, ao ouvir no rádio aquela nossa canção.

Agora quero ver de novo, você passar de ano e ser a melhor aluna, quero receber sua cola e ver você torcer para mim no time da escola.

Agora quero receber de novo, suas cartas nas férias de verão, quero dedicatória em cartão, quero ver as suas capas de caderno, com o nosso nome gravado, dentro de um coração.

Agora hoje, neste exato momento, quero ver a minha vida parar, quero voltar no tempo e lhe dizer agora, como foi gostoso ter você para amar.

SOBRE O AUTOR:
José Luiz Ricchetti, nascido em São Manuel, é oriundo de famílias das mais tradicionais da cidade como Ricchetti, Ricci e Silva, é casado e tem 3 filhos. Engenheiro Mecânico pela Escola de Engenharia Industrial – EEI, com pós-graduação na FGV em Administração de Empresas e Comércio Exterior, tem MBA na área de Gestão de TI e Telecom pelo INATEL-UCAM, tendo atuado por mais de 35 anos, como executivo de grandes empresas brasileiras e multinacionais no Brasil e no Exterior.

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