Tempo é uma questão de prioridade, por José Luiz Ricchetti

O ano passado, acredito que foi um ano bem difícil para muitos.

Sei que muita gente perdeu pessoas próximas entre amigos e familiares. Tudo em consequência direta ou indireta desta pandemia.

Eu perdi dois amigos, um de infância e outro da faculdade.

No dia que recebi a notícia do primeiro deles, o que mais senti foi o fato de não termos nos encontrado e conversado mais vezes.

Lembro bem, que tão logo fui informado do seu passamento, eu caminhei lentamente até a minha escrivaninha, desabei sobre a cadeira e chorei.

Enquanto as lágrimas ainda rolavam pela minha face, várias imagens, do nosso tempo de adolescente, de momentos que curtimos juntos, me vieram instantaneamente à mente, como se fosse um trailer de um filme.

Eram imagens dos bailes, churrascos, férias, carnavais, partidas de truco, jogos de bola e tantas outras coisas, como se estivessem todas acontecendo ao mesmo tempo, de novo, projetadas bem na minha frente.

O fato é que, durante estes últimos anos, tivemos poucos encontros.

Alguns foram para tomar um chope, outros apenas para um rápido café e sempre com conversas superficiais.

O tempo foi passando e esses poucos encontros foram substituídos por mensagens no dia do aniversário, alguns ‘memes’ sobre futebol ou mensagens curtas, com o tradicional chavão:

  • E aí, tudo bem?

Foram raríssimas as ocasiões em que tivemos um desses encontros para valer, junto com nossas famílias, num final de semana, por exemplo.

Vasculhei minha mente e não consegui encontrar, uma única vez, em que nos falamos por um bom tempo, nestes últimos doze meses.

Eu queria de ter ligado para lembrá-los o quanto a nossa amizade era importante, mas acho que somos muito ruins para esse tipo de comunicação.

Assim, quando dizemos: – Ah desculpe, não liguei porque não tive tempo! É porque não demos a devida prioridade.

Por pequenos gestos assim é que acabamos nos distanciando e esfriando amizades. O egoísmo faz com que a gente ‘não tenha tempo! ’

Hoje, com a pandemia então e a história do ‘home office’, por exemplo, vejo que mais pessoas parecem trilhar o mesmo caminho do afastamento, deixando que o trabalho tome conta de tudo.

Os demais compromissos, os relacionamentos, deixam de existir num passe de mágica e as pessoas se esquecem de elencar prioridades.

Depois de ter passado por estes fatos tristes, decidi me comportar de modo diferente, administrando melhor o meu tempo e procurando dividi-lo com equilíbrio, dando mais espaço para a família e os amigos.

Descobri, pela dor, que se a gente não toma as rédeas da nossa vida e administra melhor o nosso tempo, ele nos engole e nos escraviza.

Os relacionamentos são como um jardim cheio de flores, que se não for regado, e adubado corretamente, se transforma em terra estéril onde nada cresce e onde nada brota.

Hoje, é mais fácil esquecermos as ofensas de um desconhecido do que este silêncio mortal dos velhos amigos.

As verdadeiras amizades precisam continuar a crescer, mesmo hoje, quando não podemos ter encontros presenciais. O que mais importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

Verdadeiros amigos não servem só para rachar a despesa da conta do bar, mas também para rachar lembranças, dificuldades e segredos.

Verdadeiros amigos não emprestam apenas livros, emprestam o ombro, emprestam o tempo, emprestam a atenção.

Verdadeiros amigos não passam juntos apenas um réveillon, eles passam juntos um aperto, passam juntos por situações difíceis, passam juntos por dificuldades.

Pegando emprestado as frases de Saint Exupéry no seu livro ‘O Pequeno Príncipe’:

“ Neste mundo que se faz cada vez mais deserto, temos sede de encontrar os velhos amigos, sem nos esquecermos que somos sempre responsáveis por aqueles a quem cativamos. ”

Afinal temos tempo, porque tempo é uma questão de prioridade!

José Luiz Ricchetti – 01/02/2021

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