
Acho que todos nós, algum dia, já se flagrou olhando no espelho e se perguntando quem sou eu? Ou então porque nasci nesta cidade ou neste país?
Certa vez, em uma palestra, num centro espírita, me recordo do palestrante dizendo que as crianças que atualmente morrem de fome, na África, teriam sido, durante a segunda guerra, criminosos nazistas, que agora espiam seus pecados, reencarnando ali, nesses países africanos.
Independente desse detalhe que envolve uma crença religiosa, quando nos lembramos do nosso país, por exemplo, vemos o quanto somos privilegiados, de termos ao nosso alcance uma abundância, tanto em cultura, como em recursos naturais, além da agricultura cada vez mais pujante e produtiva.
Por outro lado, toda vez que pensamos na nossa rica infância e adolescência e nas várias das situações e fatos ocorridos, se torna inevitável, constatarmos os inúmeros aprendizados que vivemos, e aí, imediatamente nos lembrarmos da nossa querida cidade natal.
Ter o privilégio de ter nascido numa pequena cidade do interior e ainda no Brasil, é uma dessas bênçãos que só temos que agradecer.
Acredito que, quando falo da minha pequena cidade natal de São Manuel, eu estou, não só falando para os meus conterrâneos, mas também para todos aqueles brasileiros, que também tiveram a sorte de nascer e viver, nem que tenha sido pouco tempo, numa cidade pequena do interior do país.
Pequenas cidades, que se caracterizaram pela mesma formação, pelo mesmo tipo de imigração europeia e principalmente porque todos que lá nasceram foram forjados nos mesmos bons valores, no mesmo tipo de educação de qualidade e numa riqueza de infância, muito difícil de ser repetida, nos dias em que vivemos.
Acredito que todos aqueles, que nasceram nesse tipo de cidade, sabem, que ao longo do tempo, percorremos lugares, vivemos acontecimentos e situações únicas, que com certeza, serão lembradas e relembradas pelo resto da vida.
Foi ali que crescemos, fazendo amigos e onde nossas famílias se conheciam e onde todos viviam como se fossem irmãos, independente da origem, da raça, do credo ou da situação econômica. Somos de uma geração que não conheceu o preconceito.
Embora muitos tenham se mudado, todos, os que se foram e os que ficaram, amam saber que continuam a ser e ter conterrâneos e muita mais coisas em comum, do que pode parecer, à primeira vista.
Foram nestas cidades, em que vivemos inúmeros momentos maravilhosos, principalmente durante a fase da infância e adolescência, que com o tempo fizeram florir e sedimentar em nós essa ligação de amizade e companheirismo.
Estas pequenas cidades é que nos possibilitaram viver com os nossos amores, as nossas dores e que acresceram muitas e diversas experiências de valor às nossas almas, sempre envoltos por uma linda cortina de solidariedade e amor.
Muitos dos nossos amigos e parentes já se foram para outros mundos, outros ainda vivem nestas cidades, outros se mudaram, mas todos, de alguma forma participaram desses momentos marcantes e todos contribuíram, de alguma forma, para construir esta rica egrégora, que tanto nos influenciou, vida afora.
Quantos não são aqueles lugares, como ruas, jardins, igrejas, festas, quermesses, escolas, que junto com as badaladas do sino da Igreja Matriz, marcaram a nossa vida, de tal forma, que hoje quando olhamos para trás, sentimos a tristeza de ver o quanto o tempo correu, muito mais do que desejávamos.
Quando a oportunidade aparece e podemos voltar lá e andar por suas ruas, pelas suas praças, imediatamente nos lembramos dos amigos, das namoradas, das aventuras, dos aprendizados, dos inúmeros sabores e do ar puro com cheiro de flores.
Nessas horas, cada vez mais, percebemos que, por mais lindas que sejam as outras cidades que conhecemos e muitas vezes até vivemos, por esse mundo afora, continuamos a não encontrar nenhuma que se compare à cidade em que nascemos, no que tange ao gostoso sabor da saudade.
Hoje sentimos, que muito desse tempo já se passou, mas se prestarmos atenção, ainda poderemos sentir as leves brumas que nos empurram suas nuvens cheias de poeiras.
Poeiras do Tempo que trazidas pelo vento, se transformam em saudades, difíceis de esconder, do lado esquerdo do peito.
E que nos fazem recordar das marcas deixadas na nossa alma e que nos ajudam a envelhecer melhor, vendo passar pela janela, o mesmo tempo de outrora, marcados pelas badaladas do mesmo velho sino da Igreja Matriz…
Ah…. Poeiras do Tempo, que teimam em reacender nossas velhas lembranças, nossas velhas feridas, mas também aquelas lindas marcas que ficaram, algumas que até haviam se perdido no tempo, mas também aquelas que partiram, antes mesmo do seu tempo…