Quando minha avó já estava muito velhinha e doente, chamou-me ao seu quarto.
A luz que entrava pela janela parecia filtrar o tempo, e o silêncio, ali, era mais eloquente que qualquer palavra.
Com voz mansa, ela me disse:
— Meu filho, estou perto de partir.
Senti um nó no peito, um vazio que o ar não preenchia.
— Mas, vó… como vou viver sem a sua presença, sem os seus conselhos, se a senhora vai morrer? — perguntei, tentando conter as lágrimas.
Ela sorriu, daquele jeito sereno de quem sabe mais da vida do que a própria vida.
— Eu sempre estarei viva dentro de você — respondeu. — Porque tudo o que você escutou de mim, tudo o que me viu fazer, tudo o que construí… está aí, dentro de você.
Você é a minha continuação.
Fez uma breve pausa, olhou-me nos olhos e perguntou:
— Você conheceu seus bisavós?
— Não, vó… nunca conheci.
— Engano seu — disse ela, com doçura. — Tudo o que ensinei a seus pais, e depois a você, foi o que eles me ensinaram. E assim a vida segue… de coração em coração, de geração em geração.
Aquela frase me atravessou como uma revelação.
Ela continuou, com voz ainda mais suave:
— Eu estou dentro de você nos ensinamentos, nos exemplos, nas coisas simples que vivi e te mostrei. A vida é um eterno continuar, onde cada geração se soma à outra. Um dia, será você a ensinar os seus filhos… e eu estarei ali também, em cada gesto seu.
Então, segurou minha mão com a força leve do amor e concluiu:
— O corpo físico se vai, meu filho, mas o legado e os ensinamentos permanecem vivos dentro de nós. Eles viajam no tempo… de alma em alma.
Desde aquele dia, nunca mais vi a morte como um fim — mas como um retorno.
E cada vez que escuto o eco da sua voz em minhas lembranças, sinto que ela ainda vive — não na memória, mas no que me tornei.
José Luiz Ricchetti – 21/10/25
