
Querida infância,
faz tempo que não te escrevo.
Mas hoje acordei com saudade
do barulho da rua de terra molhada,
do cheiro do pão com manteiga
e da liberdade que girava nas rodas da bicicleta.
Lembro de ti nas manhãs em que o mundo
ainda era um quintal com formigas,
e toda tristeza passava
com um picolé de groselha
ou um mergulho no rio da imaginação.
Você foi feita de pés descalços,
de perguntas sem medo,
de sonhos em construção.
E mesmo sem entender os adultos,
você sabia amar com simplicidade —
sem contrato, sem relógio,
sem cobrança.
Hoje, às vezes, te procuro em silêncio,
em uma brincadeira com minha neta,
em uma fotografia antiga,
ou no cheiro da manga caída no chão.
Você mora em mim, eu sei.
Escondida entre as dobras da memória.
E sempre que o mundo pesa,
é pra você que eu volto.
Porque você é o pedaço mais leve
do tempo que eu vivi.
Com saudade e ternura,
José Luiz Ricchetti