COLUNA DO RICCHETTI – Antes da selfie a revolução

ANTES DA SELFIE, A REVOLUÇÃO – Uma homenagem as jovens dos anos 60 – Anos Dourados

Talvez os meninos e meninas de vinte e poucos anos, com seus feeds coloridos, filtros em tempo real e playlists digitais, nunca tenham imaginado…, Mas as mulheres da minha geração — essas mesmas que hoje bordam mantinhas para os netos e preparam bolos aos domingos — já incendiaram o mundo.

Sim, meu caro leitor. Antes do TikTok, houve as minissaias. Antes dos stories de 15 segundos, havia os minutos eternos de uma música de Roberto Carlos ecoando no rádio, enquanto dançávamos descalças no quintal de alguma amiga ou em algum festival de chão batido e alma leve.

As calças? Cintura baixa (Saint Tropez), umbigo de fora e bocas de sino, como a coragem que tínhamos no peito. As botas? De cano alto, como os sonhos que teimávamos em vestir nas pernas. O sutiã? Ah… esse virou símbolo de libertação, queimado em praça pública ou, no mínimo, esquecido numa gaveta empoeirada enquanto gritávamos que o corpo era nosso e a vida também.

Dirigíamos fusquinhas com motor nervoso, vidro fumê e pneus tala larga. Quem precisava de direção hidráulica quando o que nos movia era a adrenalina? Subíamos em motos e lambretas sem capacete e com a cabeça cheia de ideias. Muitas delas loucas. Outras… absolutamente geniais.

Brindávamos com cuba libre, cinzano e uísque barato, porque a vida não tinha tempo pra ser levada com água com gás e rodelinha de limão. As conversas? Olho no olho. Sem emoji. Sem “digitando…”. Só sentimento, riso e lágrima ali, ao alcance da mão.

E os festivais… Ah, os festivais! Lama nos pés, música na alma e uma sensação bonita de que o mundo podia mudar só com o poder de um refrão bem cantado em coro.

Vivíamos dias longos e noites ainda mais longas, em que o Wi-Fi era substituído pela conexão verdadeira de um abraço, de um beijo roubado ou de um choro coletivo quando a censura derrubava mais uma canção nas rádios.

E agora… quando olho para essa juventude tão conectada e tão desconectada de si mesma, me pego sorrindo. Porque, no fundo, sei que com toda essa tecnologia, com toda essa pressa, com todos esses apps… eles nunca vão saber o que foi ser livre sem pedir permissão.

E se algum neto me perguntar um dia o que eu fui na juventude… talvez eu não responda com palavras.

Talvez eu só coloque uma velha canção dos Beatles ou dos Bee Gees pra tocar…

Talvez eu vista minha jaqueta de couro guardada no fundo do armário…

Talvez eu sirva uma dose de uísque…

E, com um sorriso cúmplice, eu diga baixinho:

– Antes da selfie… houve a nossa revolução.

José Luiz Ricchetti – 14/06/25

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