COLUNA DO RICCHETTI – A verdadeira história da música ‘Bella Ciao’

(Crônica de ficção criada e escrita por José Luiz Ricchetti)

Os anos dourados de São Manuel tinham um brilho que só a memória é capaz de resgatar. Era uma época em que realidade e fantasia se misturavam como as notas de uma melodia antiga, tecendo histórias que pareciam sair diretamente dos livros de aventuras. Na praça matriz, sob as árvores centenárias, um grupo de amigos inseparáveis – José Luiz, Beto, Milo, Renato, Teté, Arnaldo, Paulo, Waltinho e Bia – encontrava na música uma ponte entre o cotidiano e o extraordinário.

Foi num entardecer preguiçoso que José Luiz trouxe ao grupo um velho disco, herança de seu bisavô, o maestro Ricchetti, que havia imigrado da Itália. Ao colocar a agulha sobre o vinil, uma melodia peculiar encheu o ar: ‘Bella Ciao’, uma canção que, como o próprio maestro dizia, carregava o peso da história e a leveza dos sonhos.

“Essa música – dizia meu bisavô – nasceu nos campos de arroz do vale do rio Pó, onde mulheres camponesas cantavam sobre suas lutas diárias. Mais tarde, ela se tornou o hino dos ‘Partigiani’, os heróis da resistência italiana que enfrentaram o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. É uma música de coragem, de despedida e, acima de tudo, de esperança.”

Os amigos ficaram fascinados. Ali, naquele instante, sentiram que aquela melodia não era apenas uma canção; era um chamado.

ENTRE A HISTÓRIA E O ENCANTO

Conforme ensaiavam nas noites estreladas, os amigos descobriam mais sobre a origem de ‘Bella Ciao’. A canção, que parecia simples, tinha raízes profundas. Era fruto de uma combinação mágica: os cantos ‘Klezmer’ das tradições judaicas, as melodias das camponesas italianas e o espírito indomável da resistência antifascista.

Essas histórias despertaram algo nos jovens de São Manuel. Eles perceberam que a música era um elo poderoso entre o passado e o presente, entre o real e o imaginário. Decidiram, então, dar sua própria contribuição à melodia, adaptando-a ao ritmo das serenatas brasileiras.

QUANDO A FANTASIA ENCONTRA O MUNDO

A história tomou um rumo inesperado e em 1967, quando o grupo de amigos, apresentou sua versão de ‘Bella Ciao’ em um festival de música regional em Bauru. Era como se a magia da canção tivesse encontrado um novo lar. A plateia foi arrebatada, e um produtor musical de São Paulo, emocionado, convidou os jovens para gravar a música.

O que começou como uma homenagem se tornou um fenômeno. A versão brasileira de ‘Bella Ciao’ ultrapassou fronteiras, chegando às paradas de sucesso em todo o mundo. Embora a melodia já fosse um símbolo em muitos lugares, a adaptação dos ‘Meninos de Ouro de São Manuel’ trouxe uma nova luz à canção. Agora, ela não era apenas um hino de resistência; era também um tributo à amizade, ao amor e à universalidade da música.

O LEGADO DE UMA CANÇÃO

Com o passar dos anos, os ‘Meninos de Ouro’ seguiram seus próprios caminhos, mas a história de “Bella Ciao” permaneceu viva. Hoje, ao caminhar pela praça matriz de São Manuel, é possível encontrar uma placa que celebra o encontro entre a realidade e a fantasia:

“Aqui, sob estas árvores, uma melodia atravessou o oceano e encontrou novas vozes. Esta é a flor da resistência e da imaginação, que brotou no coração de jovens são-manuelenses que acreditaram no poder da música e dos sonhos.”

Nas noites tranquilas, ainda é possível ouvir, na memória do vento, o eco de uma serenata: ‘Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!’

E assim, ‘Bella Ciao’ segue florescendo, como um hino eterno que prova que a música, como as histórias que ela inspira, mesmo de ficção, não conhece fronteiras nem o tempo…

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