Hoje, a humanidade adoeceu. Em meio a telas brilhantes, sons de notificações, e pequenos ícones que tentam imitar sorrisos e emoções, o calor do abraço esfriou. O toque do olhar foi substituído pelo deslizar dos dedos na tela. As palavras que outrora eram ditas com a força da presença se transformaram em mensagens rápidas, abreviadas, às vezes até sem alma, sem vida.
Vivemos uma era onde o emoji de um coração tenta expressar o que só o bater acelerado no peito pode revelar. Onde o rosto sorridente desenhado em pixels não carrega o brilho autêntico dos olhos que encontram outros olhos, não reflete a emoção genuína de um sorriso compartilhado. O toque, antes sagrado e acolhedor, foi substituído por um sinal de emoji, e o silêncio das palavras certas, ditas na hora exata, se transformou em longos áudios que muitas vezes só preenchem o vazio.
O encontro entre duas almas – esse verdadeiro, onde a pele sente, o ar se mistura, o cheiro envolve e as palavras são sussurradas com afeto – foi perdido nas ondas digitais. Antes, o tempo parecia correr mais devagar, o suficiente para uma xícara de café compartilhada, para o aceno na janela de casa, para a conversa despretensiosa que durava horas. Hoje, tudo é apressado. O que foi feito com o tempo de sentar-se ao lado de alguém e sentir sua respiração? Com o olhar que diz mais do que qualquer mensagem de texto?
A humanidade está doente porque trocou o som da voz pelo toque seco das teclas. Porque esqueceu que a presença física não se substitui por um avatar ou uma chamada em vídeo. A tecnologia, por mais prática que seja, jamais poderá substituir o calor do carinho, o afeto verdadeiro. Nada substitui a palavra certa no momento de dor. Nada substitui o toque gentil no ombro quando o mundo parece desabar. Porque, no fim, é o amor em suas formas mais simples e sinceras que nos cura.
Estamos cada vez mais conectados, e, paradoxalmente, mais distantes. Falamos com muitos, mas nos comunicamos com poucos. E a cura para essa doença da alma não está em mais aplicativos ou inovações tecnológicas, mas em redescobrir o valor de um encontro, de um abraço, de um sorriso sincero. Porque, por mais que o progresso avance, o que nos faz humanos nunca poderá ser substituído.
José Luiz Ricchetti – 23/10/2024