PAÇO A PASSO – Capítulo I – Os buracos de minhoca

Amigos e conterrâneos, como prometido segue o primeiro capítulo do meu primeiro livro PAÇO A PASSO:

CAPÍTULO I – OS BURACOS DE MINHOCA

Visitar Campos do Jordão no inverno sempre me trouxe ótimas recordações e todas as vezes, quando tinha uma oportunidade, eu voltava lá, para passar alguns dias ou até mesmo um simples final de semana, que fosse.
Num desses finais de semana, tinha me hospedado num hotel, que se situava numa área bem montanhosa de Campos, tendo ao fundo um vale, entrecortado por um rio de águas límpidas e um bosque de pinheiros, entremeado com samambaias e bromélias.
Era uma sexta feira, 14 de julho de 2019 e estar ali, desfrutando daquela paisagem e da natureza, era um privilégio. Abri uma garrafa de vinho e fiquei ao lado da lareira, sorvendo cada pequeno gole, até que o sono veio me procurar e adormeci.
Acordei com o bip do celular ao lado da mesinha de cabeceira e olhei de canto de olho em direção à sua tela para ver as horas. A madrugada havia sido bastante fria e o termômetro tinha registrado 2ºC abaixo de zero.
Vi que ainda não eram oito horas da manhã e procurei fechar os olhos novamente, pensando em poder voltar a dormir mais um pouco, até que me lembrei que naquele final de semana, haveria na cidade, a tradicional exposição de carros antigos.
Pulei imediatamente da cama, tomei um banho quente, engoli um café expresso, vesti uma roupa de frio, um gorro na cabeça e lá fui eu, dar um passeio pela exposição, ali no centro de Capivari, uma daquelas três vilas que compõe a linda cidade de Campos, na serra da Mantiqueira.
Automóveis antigos sempre foram um hobby, ao qual eu sempre quis me dedicar com mais afinco, mas o nascimento da minha filha, então com 5 anos, fez com que eu, como um pai-avô dedicado, a colocasse em prioridade absoluta, fazendo com que o hobby de carros antigos fosse deixado em segundo plano.
Com isso, o que me restou foi o prazer de visitar essas exposições, para poder ver e admirar de perto os carrões restaurados e sempre muito bem conservados.
Em todas essas exposições eu nunca me ative só às aparências ou características técnicas dos automóveis. Sempre gostei de olhar para cada carro e imaginar as histórias que poderiam estar por detrás de cada um, quem teriam sido seus donos, por onde teriam andado, por quais cidades teriam passado, como teriam sido testemunhas do seu tempo e da história….
Percorri aquelas ruas, me protegendo do vento gelado da manhã, com o meu gorro e cachecol, observando vagorosamente para cada um daqueles automóveis, como os ponteiros dos minutos de um relógio dão a volta no mostrador, lentamente, até poder marcar o avanço de mais uma hora.
Eram vários tipos de carros, muitos dos quais vi e convivi durante a infância e adolescência. Alguns dos modelos minha família tinha tido, outros tinham sido de propriedade de algum amigo do meu pai, outros haviam pertencido a pais de alguns dos meus amigos de infância.
Estavam todos lá, desde o velho e valente Fusca, passando pela Kombi, DKV Vemag, Sinca Chambord, a dupla Douphine-Gordini, Willys Interlagos, Aero Willys, Puma, Brasília, Variant e tantos outros, que aquela oportunidade ímpar me proporcionava.
Assim que entrei na Praça Benedito Calixto, bem no coração da Vila de Capivari, avistei de longe, aquele lindo carro, que logo identifiquei como sendo o inigualável Ford, modelo quatro portas e fabricado em 1946.

A luz do sol daquela manhã incidia sobre o carro, refletindo no enorme para-choques e na grade frontal, ambos cromados, cada um dos seus raios. Era incrível ver como aquela luz do sol, destacava ainda mais, o imponente e enorme capô todo pintado de preto.

Chegando perto, notei, que um senhor idoso, já com cabelos brancos e um pouco desgrenhados, não parava de lustrar, com muito cuidado, aquela relíquia, impecavelmente restaurada.

Enquanto eu circundava o carro, admirando cada detalhe, não me contive e perguntei a ele, se seria possível entrar e vê-lo por dentro. Ele então, simpaticamente assentiu. Abri a porta, cuidadosamente entrei e me sentei no lugar sagrado do motorista.

Assim que segurei o volante, uma enorme emoção tomou conta de mim, lágrimas começaram a escorrer pela minha face e ao fechar meus olhos, senti que um turbilhão de pensamentos e recordações, como um tsunami, começou a invadir minha mente….

Em seguida me lembrei do livro que havia lido, durante a noite, sobre Stephen Hawking onde ele menciona os incríveis “Buracos de Minhoca” ou “Pontes de Einstein e Rosen”, que a física quântica colocou no meu caminho e me fez imaginar a possibilidade de uma viagem no tempo.

As memórias sobre a teosofia de Helena Blavatsky, outro livro interessante, que havia lido, onde ela descreve o nosso planeta como parte de uma cadeia de seis outras “Terras” e dos demais planos e dimensões, que nos circundam, mas que não conseguimos ver, também povoaram meus pensamentos.

E aí, uma pergunta ecoou na minha mente: – Será que um dia, poderemos viajar no tempo?

Com aquela pergunta martelando a minha cabeça, adicionalmente às inúmeras recordações que aquele carro me proporcionava, olhei para o painel e vi que a sua chave estava no contato.

Me sentindo como um moleque novamente, talvez com uns 10 ou 12 anos, olhei para os lados e vendo que o velho zelador do carro não estava mais ali, não pensei duas vezes, girei a chave e apertei o botão de partida! O motor rugiu, aquele ronco inesquecível se fez valer, e todo o painel começou a piscar, de modo intermitente.

Em seguida vi, assustado, que os ponteiros do relógio giravam como loucos, até que os números do odômetro zeraram e deram início a uma contagem regressiva, começando em dois minutos. O painel brilhou e luzes de cores diferentes, primeiro uma vermelha, em seguida a amarela e finalmente a luz verde, surgiram como que do nada…

Ouvi mais uma vez o motor roncar alto, subir o giro, a carroceria começar a tremer e balançar como naqueles brinquedos de parquinhos que fazem viagens virtuais, até que, inexplicavelmente, o antigo Ford 1946 começou a se mover, sem que eu tivesse engrenado uma única marcha ou pisado no acelerador!

A partir daquele momento, não controlei mais nada, virei um mero espectador e então, sem saber se era sonho ou realidade, vi o velho e restaurado Ford 46, cruzar a praça, entrar na rua principal de Capivari, ganhar velocidade, até que, bem em frente ao famoso bar “Baden-Baden” roncou ainda mais forte e levantou voo!!!

Assustado com tudo aquilo, só alguns segundos depois percebi que nuvens brancas e espessas haviam envolvido o carro, por completo. Eu não podia enxergar mais nada e só conseguia olhar pelo retrovisor e perceber que que tínhamos saído do chão, e voávamos, contornando as lindas montanhas da Serra da Mantiqueira!

Seriam nuvens do tempo? Um sonho ou um portal aberto para os seis mundos de Blavatsky? Ou até quem sabe, o enigmático automóvel, tinha feito uma conexão com os famosos “Buracos de Minhoca” descobertos por Einstein e Rosen e agora eu estava iniciando uma viagem pelo espaço e pelo tempo?

José Luiz Ricchetti

Políticas de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.