
(Texto criado e escrito por José Luiz Ricchetti)
Outro dia me reencontrei com alguns amigos de longa data. Era aniversário da filha de um deles e estava lá presente, num naqueles buffets infantis que substituíram as festas em casa, quando tudo era menos organizado, mas muito mais íntimo, muito mais verdadeiro e menos artificial.

Já tínhamos nos vistos muitas e muitas vezes em viagens, festas, ocasiões e contextos diferentes ao longo de muitos anos e então quando começou a retrospectiva da sua filha comecei a rever uma série de fotos de todos nós em viagens, aniversários, festas e até mesmo trabalhos sociais que havíamos feito através de uma Ong que tive.
No meio daquela retrospectiva comecei a perceber que os tempos eram outros e que as amizades nem sempre são eternas. Tudo muda e as vezes os valores que antes nos eram comuns já não são mais.
Hoje vejo que alguns daqueles amigos, no decorrer do tempo foram se transformando em algo diferente que talvez já não me dizem respeito, algo que percebo agora, ficou preso e acorrentado no passado e que hoje só exalam um perfume de saudades.
Então me lembrei, há tempos, que certo dia quando estávamos reunidos, comentei sobre a possibilidade, de que com o passar dos anos, a nossas amizades pudessem mudar. Naquele momento, muitos ali, para não dizer praticamente todos, me olharam com aquela cara de espanto, seguida da frase, quase que como que em um coro em uníssono me dizendo: “Imagine! isso nunca vai acontecer! Vamos permanecer sempre assim, essa turma unida, casais inseparáveis, encontros alegres, amigos para sempre! “
Mas como o tempo é sempre o senhor da razão tudo mudou como havia dito naquele dia….
Foi o amigo que veio a se casar com uma mulher egoísta e tudo mudou entre nós; o sujeito que não amadureceu e continuou eterna criança; aquela amiga que começou a namorar um torcedor fanático que só sabe preencher nossos encontros com discussões infindáveis sobre jogadores e campeonatos; é a outra que permanece achando que ainda tem 20 anos e que o mundo é só uma grande festa; é aquela que nos trocou por outros amigos como se trocasse de vestido; é aquela que esconde até que vai viajar; é aquele que criou convicções políticas inimagináveis para a sua antiga personalidade; é o cara que troca qualquer coisa pelo reencontro de amigos; são os casais que se separaram e agora se tornaram duas pessoas diferentes; sãos os casais que ao terem os filhos se transformaram completamente e por ai vai…
Assim como previsto, passou o tempo, mudamos todos, mudaram as situações, os contextos, e nada é mais igual e muito menos aquele calor da amizade dos tempos idos.
É como se nos lembrássemos do enunciado da lei de Lavoisier e trocássemos a palavra natureza por amizade: ‘Na amizade nada muda, nada se cria, tudo se transforma’.
Mas, graças a Deus, nem tudo é negativo e a vida sempre nos reserva boas surpresas.
Por exemplo, alguns anos atrás, reencontrei muitos dos meus amigos de infância, alguns de modo presencial e outros pelas redes sociais e a conversa fluiu como se tivéssemos nos encontrado ontem.
Tive também boas surpresas vinda de outros amigos que mesmo muito distantes, morando em outras cidades e ou mesmo em outros países ainda estão tão próximos que é como se morássemos no mesmo prédio.
Tem também aqueles que aparecem na nossa vida, de repente, e surgem como grandes e ótimas surpresas, são os amigos novos, os amigos recentes.
Enfim, ainda bem que existem exceções para desmentir a regra do afastamento, da mudança, daquilo que ficou frio e indiferente, ficou para trás.
São essas pessoas que, agora percebo, têm hoje mais a ver comigo, são os amigos presentes, os que sabem rir, mas também sabem chorar, os que sempre se preocupam, os que jogam conversa fora, mas também levam papos sérios, os que me convidam para visitá-los, para viajar e quando moram em outras cidades querem sempre que eu os visite e que me hospede em suas casas.
Enfim, são gente que me fazem voltar no tempo e lembrar da minha mãe batendo palmas no muro da vizinha para pedir uma xícara de açúcar emprestado e dar um dedo de prosa. Época em que essa mesma amiga vizinha olhava a nossa casa e aguava as plantas enquanto viajávamos ou então, quando ao menor sinal de febre, de uma das crianças, já aparecia com um prato de canja ou um punhado de hortelã do seu quintal para fazer um chá para o pequeno…
Hoje, quando faço uma pequena lista desses amigos e penso em convidá-los para um churrasco ou um jantar, ou para comemorar um aniversário lá vem logo a minha mente me alertando: – Será que vai ser bom? Será que vai ser prazeroso?
Acho que essa dúvida, que logo me assalta, é o meu subconsciente me dizendo que tem algo ali que ele desaprova e sem que eu me dê conta de qual seria essa desaprovação, lá vem essa nossa parte inteligente do cérebro a fazer comparações entre os vários amigos ao longo do tempo para me alertar que o melhor, talvez seja, convidar só os verdadeiros, ou então convidar filhos e netos ou então convidar a velha tia avó que não vemos há tempos do que estar com quem não nos dá mais o devido valor….
Aí sim será um prazer! Volta a gritar meu subconsciente… Tem mais a ver com você! Completa minha consciência. Convide as pessoas que realmente lhe dão atenção!’
O jantar acontece como mandou o subconsciente e percebo que ele tinha toda a razão.
Com o passar dos anos, temos mesmo é que conviver com essas mudanças e passar a viver só com quem nos acolhe, com quem realmente valoriza a nossa amizade. Temos que procurar escolher estar com quem nos faz bem…
Bendita a maturidade, esses anos bem vividos que nos trazem à tona essa experiência de saber discernir e rever os conceitos de amizade e de acolhimento.
Nada é eterno, tudo muda.
Mas também não sejamos ingratos e que fique registrado na memória os bons e maus momentos, os aprendizados desses convívios que perderam força, dessas amizades que descoloriram com o tempo.
As que permanecem, é porque estão em sintonia com as nossas almas. As que se vão deixam saudades dos bons tempos e nos presenteiam com os aprendizados que permanecerão conosco. Obrigado por todas elas…
Mas como o tempo passa muito rápido e temos hoje mais horas vividas do que as que teremos que ainda viver, não dá para desperdiçar as horas que nos restam com aqueles que parecem já não ter o mesmo prazer de estar conosco. Que sejam felizes…
Amigos sempre, amizade sim, mas que sejam aquelas que permanecem fiéis e por perto como verdadeiras, afinal amizades são como as estrelas, que mesmo a distância, a gente percebe o brilho e a importância que têm na nossa constelação.
Amizade não se faz pelo tempo, mas sim pela sinceridade do sentimento que sentimos no presente.
Amizades sempre deixam rastros, mas nem sempre são eternas!
José Luiz Ricchetti – 24/10/2022