São Manuel, por que tudo mudou?

O Paço Municipal virou Museu, a Cadeia virou Prefeitura e o Fórum virou Câmara de vereadores.

O Seminário virou faculdade e o Instituto foi todo cercado com grades.

A Samac vendeu tanto fusca que um dia se cansou, entrou na kombi, e desapareceu na estrada.

A Auto-Ônibus São Manuel desceu a Serra, virou Fenix, mas não ressurgiu das cinzas.

A Cooperativa de Café, virou suco de laranja e depois ficou num bagaço só.

As Fazendas de café viraram cana e seus donos agora tomam café amargo sem açúcar.

O Corpus Christi diminuiu de tamanho de tal forma que não tem mais quentão nem namoro de madrugada.

A Casa Ricchetti pegou fogo e levou toda a sua história e a Casa Ricci vendeu a última camisa, enrolada num nó de gravata.

O Posto do Silva e o Armazém dos Irmãos Silva viraram, vejam só, depósitos de construção.

O Hotel Municipal virou mausoléu do homem Sagui, e vive agora de hospedar só os fantasmas.

Na Sãomanuelense o famoso centroavante Cardoso não faz mais gols e o América não consegue mais amarrar a camisa.

O Campo perdeu sua linda arquibancada e até o seu portal. Perdeu também o querido seu Américo. Só restaram as duas traves, sem redes e sem gols.

O Tênis Clube, não tem mais Seu Jorge, nem piscina, nem ginásio, só restou material para demolição.

O João pipoqueiro não vende mais sua pipoca, nem aquela geleia colorida, nem tem como nos esperar na saída da natação

A Estação teve até ajuda para se manter em pé, mas não vê mais parar um só trem, não vê mais ninguém no ir e vir de viajar.

O Bebedouro que servia muita água para os cavalos, hoje vive como se estivesse de ressaca, sempre com muita sede.

O Demétrio, Birraque, Dinhane, Americana, Melillo, e tantas outras lojas, evaporaram no tempo e no ar.

O Ponto Chic não serve mais nenhum cafezinho e o bar Colonial acabou em pizza.

A Kibrasa e a Patota não têm mais suas bandas nem as brincadeiras. Nada restou, nem mesmo o amigo Mauro e o risonho Colé.

O nosso carnaval de rua não tem mais aquela chegada pela estação de trem, nem um corso que preste, acho que nem tem mais carnaval de salão, o nosso Rei Momo perdeu a graça.

O Bar Brasília ficou numa sinuca de bico e o Pastel do Alemão voou pelos céus cheio de ar.

O Bar do Kawakami não tem mais aquele chopp de caneca, nem mesmo o churrasquinho servido no reservado, só para namorados.

A Banca do Cid sumiu, o João da banca virou João do Ipê e tudo isso nem saiu na capa da revista e nem vendeu jornal.

O Sorvete do Chiquinho entrou numa gelada e não podemos mais nem chupar aquela delícia de sorvete, em especial o de coco queimado.

O bar do Lixa não vende mais aquele delicioso picolé de coco, nem o suspiro, nem mesmo a paçoca.

O Tempo não tem mais coluna do Gordo e nem a Rádio Clube vibra mais com o programa dos ‘Sociais’.

O Cinema velho queimou de vez, virou cinza e o Cine São Manuel esticou as canelas, de terno e gravata.

Casas antigas viraram lojas e clínicas médicas, lojas viraram bancos e bancos viraram farmácias.

Os postinhos de ferro do jardim, dizem que hoje enfeitam a chácara de certo alguém.

Os bancos de granilite, com suas propagandas centenárias, quebraram como os negócios de seus doadores.

Os alfaiates não fazem mais ternos e as costureiras não fazem mais vestidos, ficaram todos ‘prontos’ como são as roupas de hoje.

A padaria do Benedetti não assa mais pão nem mesmo minha leitoa no natal e o Marichiaro também não faz mais nenhum biscoito de polvilho.

O Tiro de Guerra 47 não desfila mais nos feriados de 7 de setembro. Dizem que está voltando, vai reabrir, vamos acreditar.

O Jardim perdeu toda a sua beleza, está muito estragado, tem até pista de treino, algumas estátuas fora de lugar e ganhou mais um elefante branco.

Agora me vêm com a notícia de que vão vender a sede do Clube Recreativo, aquele do nosso primeiro baile, do dançar de rosto colado, no escurinho, de beijar pela primeira vez… Aquele mesmo de tantos bailes e tantas histórias.

Acho que pela primeira vez, vamos todos dançar ao mesmo tempo!

Talvez, só nos reste voltar no tempo e tirar para dançar a nossa primeira namorada, numa última seleção, ali no salão verde, feito só de grama, embaixo dos coqueiros, ao lado da piscina da sede de campo do clube…

Terá o mesmo glamour? Claro que não!

Mas pelo menos, quem sabe, não precisemos usar máscaras de proteção de covid, porque afinal, estaremos todos dançando ao ar livre.

Passada toda esta grande frustação, comecei a fazer comparações e até acho que no resto do Brasil, a coisa também tem mudado, bem assim, desse mesmo jeito.

Afinal, hoje a gente vê loja de rua que virou shopping, cinema que virou netflix, música sertaneja que virou universitária e até dança que virou funk.

Do jeito que a coisa está indo, nem sei se posso dizer que fiquei triste, porque se disser que carrego muita tristeza vão me dizer que tristeza pode virar depressão!

José Luiz Ricchetti -12/05/2021

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