
Ontem encontrei, por coincidência, um vizinho de um prédio em que residi, alguns anos atrás, aqui em São Paulo.
Me lembrei que todo sábado, ele, religiosamente,levava os dois filhos para um Grupo de Escoteiros, que havia no nosso bairro.
Era comum encontra-los no elevador nas manhãs de sábado. Eu gostava de ver aquelas crianças impecáveis naquele bonito uniforme, prontas para mais um dia de instrução.
Aquela cena sempre me remetia para os tempos em que fui escoteiro, lá em São Manuel, minha querida cidade natal.
Nosso grupo se chamava ‘Grupo de Escoteiros do Ar Henrique Ricchetti’ em homenagem a esse meu tio avô.
A homenagem era porque ele havia fundado o primeiro Grupo de Escoteiros na região de São Manuel e também porque ele havia sido um dos pilares da educação paulista, quando lançou, como Secretário da Educação, o projeto das escolas livres no estado (nessa época não haviam colégios nos municípios do estado, mas somente o primário).
O escotismo nasceu em 1907, na Inglaterra, fundado por Robert Baden-Powell, aproveitando os elementos positivos de camaradagem, iniciativa, coragem e autodisciplina presentes na sua vida militar.
O escotismo possibilita hoje que mais de 100 milhões de jovens sejam cidadãos ativos em suas comunidades e no mundo, baseados em valores comuns de amor, justiça e fraternidade.
Eu comecei como Lobinho com meus sete anos eaprendi muito sobre a vida em meio à natureza, a viver em grupo e os aspectos positivos da socialização.
O lobinho, representa a porta de entrada do escotismo e curiosamente teve suas regras,ensinamentos e jargões inspirados no livro “O Livro da Jângal”, que retrata as “aventuras de Mowgli”, o menino lobo.
Vários lobinhos, formam a ‘Alcateia de Lobos’, que édividida em pequenos grupos chamados ‘Matilhas’, que contém entre quatro a seis lobinhos. É nas matilhas que se compartilham as atividades e as noções da importância de ser e se ter um líder.
O curioso é lembrar que a minha primeira experiência com liderança aconteceu quando tinha apenas sete anos de idade, na função de líder deuma matilha de lobinhos.
Foi sendo um lobinho que muito cedo, junto com meus amigos, participei de inúmeros jogos, brincadeiras, vivi aventuras, aprendi a acampar e cozinhar, ou seja a ser independente e saber ‘se virar’ em inúmeras situações.
Uma das grandes lições foi sobre a importância da boa ação diária e de se fazer sempre o “Melhor Possível”, que é o próprio lema dos Lobinhos.
Os lobinhos têm a sua própria lei, que conta com 5artigos:▪ O Lobinho ouve sempre os velhos lobos▪ O Lobinho pensa primeiro nos outros▪ O Lobinho abre os olhos e os ouvidos▪ O lobinho está sempre limpo e alegre▪ O Lobinho diz sempre a verdade
Antes de completar meus 11 anos fiz a ‘Cerimônia da Passagem’, para ser Escoteiro.
A cerimônia da passagem é feita para que todo lobinho se despeça dos demais e agradeça os aprendizados recebidos da sua Alcateia de Lobos.
Como escoteiro segui aprendendo, principalmente sobre vivencia em grupo e liderança e fui galgando as várias etapas de desenvolvimentoproporcionadas por este movimento.
Além de trabalhar em equipe e entender a importância de respeitar a natureza, passei a aprender muito mais sobre diversos inúmeros temasque me deixaram confiante e decidido e batalhar para melhorar este mundo em que vivemos.
No ramo dos escoteiros a “Alcatéia” é substituída pela “Tropa” que então é constituída de “Patrulhas”que contém entre 5 e 8 membros.
Cada patrulha tem seu próprio bastão e bandeirola, onde são gravadas todas as lembranças marcantes e experiências, assim como o livro de patrulha, que guarda as informações sobre os membros e fotografias das ações realizadas.
O Monitor é o líder do grupo e responsável por desenvolver várias atividades por conta própria, dentro do mesmo espirito do escotismo e comandar seus liderados em todas as atividades, seja nos acampamentos nas matas ou na cidade. Fui monitor, de uma das patrulhas chamada ‘Patrulha Condor’.
Tive a satisfação de participar também do 1º Jamboree do Brasil – Encontro Internacional de Escoteiros, que ocorreu na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro em 1965, onde pude conviver com escoteiros do mundo todo.
Como todo grupo de escoteiro tem que ter um ‘Chefe Escoteiro’, também tínhamos o nosso em São Manuel. Era o dedicado e talentoso artista, pintor de quadros, Henrique Di Lello, pessoa que sempre admirei pelo caráter, dedicação e pelo enorme esforço em manter o nosso grupo de escoteiros funcionando.
É uma pena que não tenhamos mais pessoas como o Henrique Di Lello e o Grupo de Escoteiros em São Manuel.
Foi o escotismo que me ajudou a entender o quanto todos nós somos responsáveis pelo próprio desenvolvimento.
A vivência no escotismo, fez com que eu me envolvesse muito mais em favor dos menos favorecidos e passasse a me preocupar realmente com os problemas da comunidade.
Aprendi a importância de liderar e que a pró-atividade é fundamental quando se quer alcançar alguma coisa.
Foi o escotismo me deu a noção de que tudo o que fazemos na vida está interligado e tem seus reflexos na sua vida e na dos demais.
“Você pode fazer o que quiser da sua vida, mas os seus atos terão sempre um reflexo direto no seu próximo! ”
O escotismo me ensinou se preocupar com o ser humano e com o meio ambiente, e a ter um verdadeiro engajamento para se construir um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
Tenho orgulho de ter participado de um movimento que é o mais importante movimento educacional juvenil do mundo e que me ensinou que boas e pequenas ações, podem transformar o mundo.
“Sempre Alerta”!