Badida – Seja diferente, por José Luiz Ricchetti

Portrait of beautiful young happy girl

Hoje recebi a triste notícia de que o Badida, meu conterrâneo, que nasceu com a ‘síndrome de down’ e que se transformou num personagem muito querido e popular na minha cidade natal, São Manuel, havia partido para a outra dimensão.

Isso me fez relembrar que lá, nesta minha terra, sempre existiram, várias dessas pessoas, que de certo modo, eram olhadas por um outro ângulo, como se fossem pessoas diferentes.

Pensando nessa linda e doce figura que se foi, pensei em homenageá-la e com isso também homenagear todas essas pessoas ‘diferentes’ que preenchem com seu amor as suas famílias e seus amigos.

Assim para fazer justa essa homenagem, seria preciso, e interessante saber o que elas pensam, o que sentem, enquanto as enxergamos como sendo pessoas diferentes. 

Assim imaginei estar me apossando dos pensamentos deles por um único dia. Só assim seria possível saber qual a real impressão que eles têm de nós. 

E assim, como que se me fosse permitido por Deus e através de um simples passe de mágica, eu entrei na cabeça deles e comecei a ler seus pensamentos.

Logo, muitos questionamentos começaram a fluir…

Primeiro percebi que são vistas como diferentes só porque ganharam algo a mais que os demais. Quando o tal cromossoma 21 resolveu se instalar uma vez a mais, nos seus corpos. E pude observar também que esse cromossoma danadinho, que veio a mais, veio somente para trazer e depositar mais amor.

Por trazer o amor é que ele lhes deu uma missão importante, que acho que já conseguiram passar a todos nós. 

Esse cromossoma veio nos mostrar que a capacidade intelectual não é tudo e que mesmo a gente tendo uma certa deficiência, pode passar pela vida, gerando muito mais amor e alegria que a grande maioria das pessoas. 

Acho que com ele a gente conseguiu também mostrar que no mundo de hoje, se dá um valor excessivo para a razão, o que faz com que as demais pessoas se esqueçam da emoção e do quanto é importante amar.

A gente se esqueceu que além da ‘via da razão’ existe uma outra via, muito mais importante, que é a ‘via do coração’ onde mora a compaixão, a fraternidade, a caridade, a doação e tantas outras qualidades geradas pelo amor, que eles têm de montão.

Hoje temos certeza de que o fato de serem diferentes, é o que possibilitou que transformassem cada dor em alegria, cada insegurança em esperança e cada desafio em vitória.  

Continuo a pesquisar suas mentes e então surgem deles certos questionamentos:

– Como podem ser tão amorosas como nós, se ainda não amam a si mesmos? 

– Como podem ser tão cordatas como nós, se ainda discordam de si mesmas?

– Como podem ser tão alegres como nós, se ainda são tão amigas da tristeza?

– Como podem ser tão simples como nós, se ainda desejam ter muito mais que do que o necessário?

E sabem o que é mais engraçado? Apesar de nós sermos diferentes, muitos de vocês ainda não perceberam que somos felizes assim! Gostamos de ser o que somos e como somos. Sabemos que temos um imenso amor próprio e todos os que tem amor próprio estão sempre contentes e felizes. Felizes com o que são e com o que possuem. 

E podemos contar mais um segredinho para vocês? Na verdade, nós é que pedimos a Deus para vir assim, desse modo, diferente…

Por outro lado, temos certeza de que o fato de sermos diferentes é que nos trouxe muita sabedoria. Por isso quando sentimos que vocês nos vêm assim como alguém diferente, consideramos isso um grande elogio. 

Do nosso lado tudo é livre e de tal natureza que quanto mais somos diferentes, sentimos que maior é o bem que podemos proporcionar a vocês e acreditamos que sem a nossa alegria de viver, talvez muitos de vocês ainda estivessem mergulhados na tristeza. 

Afinal sermos assim diferentes, faz com que possamos nos dar ao luxo de sermos muito mais criança que vocês, lembrando que toda criança é dona do amor, da alegria e da bondade, coisas que vemos muitos de vocês toda hora procurando e gastando um tempão tentando encontrar…….  

Impressionado, saio então de dentro daqueles pensamentos dos ‘diferentes’ que têm o coração doce e feliz e volto à minha realidade, para terminar esta crônica e a homenagem.

Nesse momento me veio a certeza de que eles, muito antes de nós, já nasceram sabendo, que enquanto existir o amor, não haverá diferenças.

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