O ALPINISTA E A FÉ

O ALPINISTA E A FÉ

cabeca-ricchetti O ALPINISTA E A FÉ

(Texto criado e escrito por José Luiz Ricchetti)

Durante minhas andanças em busca da espiritualidade, cujo livro homônimo publiquei recentemente, tive a oportunidade de conversar com um velho monge, oriundo do templo Boudhanath, na cidade de Kathmandu, capitaldo Nepal.

Este templo é um dos sítios budistas mais sagrados do paíse sua enorme e maciça cúpula que domina o horizonte a nordeste do centro da cidade, é uma das maiores ‘estupas’semiesféricas do mundo e este templo budista tibetano omais sagrado, fora do Tibet.

img_0344-1-1024x682 O ALPINISTA E A FÉ

Kathmandu fica aos pés do Monte Everest – a mais alta montanha do mundo, considerada sagrada pelos nepaleses, e esta cidade não é apenas a capital do país, mas seu centro político, comercial e cultural. 

A influência religiosa é visível em toda a cidade, tomada por templos de adoração a deuses do hinduísmo e budismo. Assim ter a oportunidade de conversar com um monge oriundo de Boudhanath era um privilégio que eu precisava aproveitar…

Fui convidado então a me sentar e a tomar uma xícara dechá com ele.

Então, depois de, humildemente ouvi-lo discorrer sobre o seu dia a dia de jejum e orações e de mencionar que o Budismo não era a religião do acreditar, mas sim do despertar, eu e aproveitei para lhe fazer uma pergunta:

– Como o senhor vê o fato de tantos alpinistas virem aqui no Everest para desafiarem a vida? Eles fazem isso porque são corajosos ou porque têm muita fé?

Ele, olhou diretamente para meus olhos, pegou a xícara de chá, deu mais um gole e calmamente disse que a resposta estava numa antiga lenda sobre alpinistas, que ele passou a contar:

“Dizem que um grande alpinista, depois de escalar os maiores picos do planeta, partiu para o seu maior desafio:escalar o Everest, considerada a mais alta de todas as montanhas.

O alpinista fez anos de preparação, mas orgulhoso queria a glória somente para ele, e resolveu escalar sozinho sem nenhum companheiro, usando somente um Xerpa, aqueles famosos aldeões do Nepal, especializados em auxiliar todas as escaladas do Everest 

Depois de passarem pelos vários acampamentos,necessários para cumprir a escalada eles partiram para o último trecho que os levaria até o cume. 

Porém, assim que começaram a subir o tempo mudou repentinamente e radicalmente. Apesar disso, elesresolveram continuar teimosamente a escalada até o topo. 

Tinha escurecido rapidamente e a noite havia caído como um breu, naquela altura da montanha. Não era possívelmais enxergar um palmo à frente do nariz e, portanto, elesnão viam absolutamente nada. Tudo era escuridão e a visibilidade praticamente havia caído a zero.

No momento em que subiam por uma parede, a apenas cem metros do topo, o experimentado alpinista escorregou e caiu de uma só vez, a uma velocidade vertiginosa, sentindo a terrível sensação de ser sugado pela força dagravidade.

Apesar do susto, ele ainda conseguiu se segurar na corda de segurança até sentir um puxão que quase o partiu pelo meio. Nesse momento no silêncio da noite, no meio daquela tempestade, ele percebeu que tinha ficadosuspenso no ar, naquela mais completa escuridão. 

O Xerpa, que havia permanecido no topo, percebeu que não havia mais nada a fazer para ajudá-lo e procurou rapidamente descer para o próximo acampamento para poder se salvar.

Então, a única coisa que restou ao alpinista, suspenso no ar, foi gritar: 

– Ó meu Deus, me ajude! De repente uma voz grave e profunda respondeu:

– O que você quer de mim, meu filho?

– Me salve meu Deus, por favor!

– Você realmente acredita que eu posso salvá-lo?

– Eu tenho certeza, meu Deus!

– Então corte a corda de segurança!

Houve um momento de silêncio e reflexão…

O alpinista se agarrou ainda mais àquela corda, poisentendeu, que se a cortasse morreria…

No dia seguinte, assim que o clima melhorou, o Xerpaorganizou uma operação de resgate. Depois de algumas horas a equipe de buscas encontrou o alpinista congeladoe morto, agarrado àquela corda, a somente um metro e meio do chão…”

Assim que terminou de relatar aquela lenda, o monge, abaixou a cabeça, sorveu o último gole do chá e comentou:

Sabe meu filho, por vezes nos ficamos agarrados às nossas velhas cordas que nos mantém seguros, porém na vida é preciso não ter medo de ousar. Quando temos uma fé verdadeira devemos nos arriscar até perder o total controle da nossa própria vida, basta confiar em Deus. 

Devemos nos entregar e viver, devemos acreditar que Deus está sempre no comando, e ao nosso lado, para nos segurar, para nos suportar, mesmo quando a nossa corda arrebenta!

José Luiz Ricchetti – 25/07/2022

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Thiago Melego

Radialista e jornalista. Formado em administração de empresas, gestão de recursos humanos, MBA em negociação e vendas. Atualmente cursando Análise e Desenvolvimento de Software.

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