
Hoje completei 73 anos.
Não me levantei feliz, mas também não triste — apenas consciente.
Há uma diferença entre o contentamento e a serenidade: o primeiro depende dos outros, o segundo nasce de dentro.
E eu aprendi, com o tempo, a ser sereno, mesmo quando o mundo parece um espelho rachado.
Sou grato a Deus por me conceder mais um dia, mais um sopro, mais um ciclo.
Mas não posso esconder que me entristece ver que, depois de tanto tempo, o ser humano segue tropeçando nas mesmas pedras.
A tecnologia evoluiu, mas o coração não acompanhou.
Aprendemos a falar com o mundo inteiro, mas esquecemos de ouvir quem está ao nosso lado.
A convivência humana tornou-se uma travessia difícil — feita de silêncios frios, gestos impacientes e palavras afiadas.
O ego tomou o lugar da empatia, e o “eu” grita mais alto do que o “nós”.
Parece que o amor se tornou artigo de colecionador, guardado em vitrines sentimentais, onde poucos têm coragem de tocar.
E, nos dias de hoje, sinto ainda mais o peso da maldade disfarçada.
É triste perceber que, mesmo depois de uma vida inteira de trabalho, de honestidade e de entrega, ainda existem aqueles que se alimentam da inveja e do ressentimento.
Dói quando uma voz — movida por despeito ou frieza — tenta manchar o que construí com verdades.
Mas aprendi que a verdade, mesmo ferida, nunca morre: apenas espera o tempo certo para se erguer de novo.
E, ainda assim, eu insisto em acreditar.
Porque há um brilho escondido nas pequenas coisas: o cheiro do café ao amanhecer, a lembrança de um abraço que ficou na alma, o riso de uma criança que ainda não aprendeu o que é fingir.
Essas pequenas faíscas me lembram que a humanidade ainda tem salvação — mesmo que frágil, mesmo que distante.
Setenta e três anos não são apenas idade.
São histórias, encontros, desencontros, amores, desamores, perdas, recomeços, esperas.
E, sobretudo, a consciência de que viver é resistir sem deixar que o coração endureça.
Hoje não quero festa.
Quero apenas silêncio e um pouco de luz.
Quero agradecer pela lucidez que o tempo me deu — e pela coragem de continuar acreditando que, apesar de tudo, a vida ainda vale a pena ser sentida e muito bem vivida.
José Luiz Ricchetti – 08/10/2025