CRôNICA: OS SONHOS DA MINHA AVÓ

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cabeca-ricchetti CRôNICA: OS SONHOS DA MINHA AVÓ

A origem do doce chamado ‘sonho’ remonta ao ano de 1756, quando a Prússia, hoje região da Alemanha, Polônia e Países Baixos, estava para ser invadida. Então, o rei Frederico, o Grande recrutou todas as pessoas aptas para lutar para proteger Berlim.

Screenshot_20230327_212805_Gallery-1024x731 CRôNICA: OS SONHOS DA MINHA AVÓ

Um dos combatentes que foi chamado era um ajudante de padeiro, que ficou responsável pelas balas dos canhões. Porém, como o rapaz não tinha a destreza necessária para operar armas ele foi afastado e voltou a trabalhar na padaria, mas agora com ideias novas advindas do período da guerra.

Ele então resolveu inovar e inventou um pãozinho doce, moldando o na forma das balas de canhão e em vez de colocar as massas fermentadas diretamente no forno, decidiu fritá-las. A ideia deu certo, e o doce foi batizado como ‘Berliner’, em referência a Berlim.

Esse doce, então se espalhou pelo mundo com vários nomes diferentes. Em Portugal, é chamado de ‘Bola de Berlim’, nos Estados Unidos, ganhou um furo no meio e virou ‘Donuts’. Na Itália, é conhecido como ‘Krapfen’, na região do Tirol e como ‘Bomba’ ou ‘Bombolone’ no centro e no sul do país. Na Argentina e no Uruguai, são conhecidas como ‘Borlas de Fraile’. No Chile, são conhecidas como ‘Berlines’. No Brasil, ele chegou através dos alemães e em São Paulo entre as décadas de 1920 e 1930, foi apelidado carinhosamente como ‘Sonho’. 

Minha avó era uma italiana que adorava cozinhar e de tudo o que sabia fazer, para mim, o seu sonho recheado e depois recoberto com açúcar branco refinado era uma coisa dos Deuses, dessas como se diz popularmente ‘para comer ajoelhado’. 

Eu gostava tanto daqueles sonhos que, que todo ano, quando tirava minhas férias, eu reservava o primeiro dia só para ir lá na sua casa, tomar um café da tarde com aqueles sonhos maravilhosos.

Me lembro que certa vez, de tanto eu comentar com os amigos, um deles insistiu para que eu o levasse para saborear a iguaria. Assim que provou o sonho ele de um jeito bem mal-educado ousou questionar a minha avó por que ela não o deixava com um recheio mais doce. 

Minha avó então lhe respondeu:

– Sabe filho se eu mudar a receita e ‘deixá-lo mais doce’, ele vai ficar enjoativo e ninguém mais vai gostar…

Vocês são jovens e talvez ainda não entendam o que vou dizer, mas na vida as pessoas com quem convivemos, principalmente num casamento, também são assim, as vezes queremos que elas mudem e fiquem do nosso jeito e não respeitamos a sua individualidade. A arte do amor é saber conviver e respeitar as diferenças.

Nem sempre a gente consegue mudar as pessoas e precisamos entender que cada uma delas tem suas particularidades suas características e tenham a certeza de que foram exatamente esses detalhes que nos atraiu. Se ficarmos insistindo em mudá-las corremos o risco de, como nos sonhos, torná-las pessoas menos atraentes e enjoativas, bem diferente da receita original que nos fez gostar delas, da primeira vez.  

No início amamos as pessoas como elas são. Depois começamos a criticá-las e a tentar mudá-las, para adaptá-las ao nosso jeito, sendo que assim fazendo estamos apenas querendo projetar nelas a nossa maneira de ser e elas são bem diferentes, tem outra formação, passaram por experiências diferentes viveram momentos únicos. Lembrem que esse novo ser que queremos simplesmente não existe.

No início aceitamos as pessoas como são, depois que estão conosco começamos a criticar, tentamos mudá-las, tentamos “colocar do nosso jeito”, sem saber que aquele ‘nosso jeito’ são nossas projeções de um ideal que não existe. Essa nova pessoa que queremos, caso passasse a existir, tenham a certeza de que enjoaríamos dela como se enjoa de um sonho mais doce, que teve a sua receita modificada… 

Então meus filhos, respeitem e aceitem as pessoas como elas são e viva mais feliz. Acreditem que a receita original, como nos sonhos, é sempre a mais saborosa.

José Luiz Ricchetti – 23/08/2022

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A origem do doce chamado ‘sonho’ remonta ao ano de 1756, quando a Prússia, hoje região da Alemanha, Polônia e Países Baixos, estava para ser invadida. Então, o rei Frederico, o Grande recrutou todas as pessoas aptas para lutar para proteger Berlim.

Screenshot_20230327_212805_Gallery-1024x731 CRôNICA: OS SONHOS DA MINHA AVÓ

Um dos combatentes que foi chamado era um ajudante de padeiro, que ficou responsável pelas balas dos canhões. Porém, como o rapaz não tinha a destreza necessária para operar armas ele foi afastado e voltou a trabalhar na padaria, mas agora com ideias novas advindas do período da guerra.

Ele então resolveu inovar e inventou um pãozinho doce, moldando o na forma das balas de canhão e em vez de colocar as massas fermentadas diretamente no forno, decidiu fritá-las. A ideia deu certo, e o doce foi batizado como ‘Berliner’, em referência a Berlim.

Esse doce, então se espalhou pelo mundo com vários nomes diferentes. Em Portugal, é chamado de ‘Bola de Berlim’, nos Estados Unidos, ganhou um furo no meio e virou ‘Donuts’. Na Itália, é conhecido como ‘Krapfen’, na região do Tirol e como ‘Bomba’ ou ‘Bombolone’ no centro e no sul do país. Na Argentina e no Uruguai, são conhecidas como ‘Borlas de Fraile’. No Chile, são conhecidas como ‘Berlines’. No Brasil, ele chegou através dos alemães e em São Paulo entre as décadas de 1920 e 1930, foi apelidado carinhosamente como ‘Sonho’. 

Minha avó era uma italiana que adorava cozinhar e de tudo o que sabia fazer, para mim, o seu sonho recheado e depois recoberto com açúcar branco refinado era uma coisa dos Deuses, dessas como se diz popularmente ‘para comer ajoelhado’. 

Eu gostava tanto daqueles sonhos que, que todo ano, quando tirava minhas férias, eu reservava o primeiro dia só para ir lá na sua casa, tomar um café da tarde com aqueles sonhos maravilhosos.

Me lembro que certa vez, de tanto eu comentar com os amigos, um deles insistiu para que eu o levasse para saborear a iguaria. Assim que provou o sonho ele de um jeito bem mal-educado ousou questionar a minha avó por que ela não o deixava com um recheio mais doce. 

Minha avó então lhe respondeu:

– Sabe filho se eu mudar a receita e ‘deixá-lo mais doce’, ele vai ficar enjoativo e ninguém mais vai gostar…

Vocês são jovens e talvez ainda não entendam o que vou dizer, mas na vida as pessoas com quem convivemos, principalmente num casamento, também são assim, as vezes queremos que elas mudem e fiquem do nosso jeito e não respeitamos a sua individualidade. A arte do amor é saber conviver e respeitar as diferenças.

Nem sempre a gente consegue mudar as pessoas e precisamos entender que cada uma delas tem suas particularidades suas características e tenham a certeza de que foram exatamente esses detalhes que nos atraiu. Se ficarmos insistindo em mudá-las corremos o risco de, como nos sonhos, torná-las pessoas menos atraentes e enjoativas, bem diferente da receita original que nos fez gostar delas, da primeira vez.  

No início amamos as pessoas como elas são. Depois começamos a criticá-las e a tentar mudá-las, para adaptá-las ao nosso jeito, sendo que assim fazendo estamos apenas querendo projetar nelas a nossa maneira de ser e elas são bem diferentes, tem outra formação, passaram por experiências diferentes viveram momentos únicos. Lembrem que esse novo ser que queremos simplesmente não existe.

No início aceitamos as pessoas como são, depois que estão conosco começamos a criticar, tentamos mudá-las, tentamos “colocar do nosso jeito”, sem saber que aquele ‘nosso jeito’ são nossas projeções de um ideal que não existe. Essa nova pessoa que queremos, caso passasse a existir, tenham a certeza de que enjoaríamos dela como se enjoa de um sonho mais doce, que teve a sua receita modificada… 

Então meus filhos, respeitem e aceitem as pessoas como elas são e viva mais feliz. Acreditem que a receita original, como nos sonhos, é sempre a mais saborosa.

José Luiz Ricchetti – 23/08/2022

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