O último romântico

O último romântico

cabeca-ricchetti O último romântico

Ela já tinha tido vários namorados, mas nunca conseguiu engatar um noivado ou um relacionamento mais sério. A coisa sempre terminava muito rápido.

96.1-O-ultimo-romantico-1024x683 O último romântico

Com 45 anos ela ainda não havia conseguido descobrir os motivos que a levavam a terminar rapidamente todos aqueles relacionamentos.

Até que um dia ela resolveu se inscrever no ‘Tinder’, esse site que promove relacionamentos. Ah, como a internet nos traz maravilhas, pensou, consigo mesma…

O rapaz com o qual estava se correspondendo parecia muito simpático. Sua foto era de um homem bonito e que aparentava o que dizia ter, 42 anos. Apenas três anos menos do que eu, pensou….

Quando contou para as amigas, ouviu delas muitas coisas:

– Você é louca!
– Marcar um encontro pela internet?
– Vai que é um doido, varrido, um tarado!
– Sai dessa amiga!

Mas, e todos os demais rapazes com os quais ela já tinha se relacionado? A maioria ela tinha encontrado em baladas, shoppings ou em algum lugar qualquer.

Em nenhuma das vezes ela os tinha conhecido previamente e nem tampouco sido apresentada por alguém. Eram todos desconhecidos, exatamente como esse, agora, do Tinder…

Naquele momento ela se lembrou do último deles, um rapaz que tinha conhecido em um restaurante de estrada, quando estava indo visitar os seus pais no interior.

Mais um relacionamento que não tinha dado certo…

Então, contrariando as amigas, ela marcou o encontro em um restaurante italiano da moda, ali no meio do Itaim em São Paulo. Tinha que ser num local movimentado, pensou…. Comeram um belo espaguete a ‘carbonara’, acompanhado de um vinho italiano.

Ele fez questão de pagar a conta. Ela tinha ido de Uber e ele de carro. Então ele fez questão de levá-la para casa. Na saída ela estranhou quando, ele a presenteou com uma rosa, comprada de um desses garotos, que ficam vendendo na porta de restaurantes.

Depois se admirou ainda mais, quando ele abriu a porta do carro para que ela entrasse, e o fez também quando ela foi descer em frente à sua casa. E ainda a acompanhou até a porta do prédio…

Ao se despedir ele agradeceu pela noite, beijou sua mão e disse que ligaria no dia seguinte.

Ela entrou no apartamento, ainda muito espantada e sem conseguir entender tudo o que tinha se passado naquela primeira noite, com aquele primeiro encontro com o lindo rapaz.

Ela tomou um banho, vestiu seu pijama e entrou debaixo dos lençóis. De repente ouviu o som de mensagem recebida. Que estranho pensou…. Mensagem a essa hora? Viu então que ele tinha lhe enviado um vídeo pelo WhatsApp. Um vídeo logo após nosso primeiro encontro? Que esquisito….

Abriu o vídeo…… Era uma música do Ed Sheeran. Aquela linda canção em que Ed canta com o Andrea Bocelli, chamada “ Perfect”:

“Eu encontrei um amor para mim

Querida, entre de cabeça e me siga

Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce

Ah, eu nunca soube que você era a pessoa que estava esperando por mim…”

(……)

Pela manhã, assim que acordou, recebeu outro WhatsApp com a poesia ‘Amor’ de Carlos Drumont de Andrade. Coincidentemente um dos seus poetas preferidos.

“O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo acha a razão de ser, já dividido.

São dois em um: amor, sublime selo que à vida imprime cor, graça e sentido…”

(……)

Ela não atendeu mais nenhuma chamada dele e também não respondeu as suas mensagens que chegavam pelo WhatsApp.

Ele pedia para reencontrá-la…

Se passou uma semana e ela continuou a não responder nada vindo dele. Então decidiu enviar uma mensagem de voz a ele, dizendo que não a procurasse mais!

Afinal eu quero um homem que me trate de igual para igual! Pensou com seus botões….

Do outro lado da cidade o rapaz, dentro do seu carro, no meio de um engarrafamento de final de tarde, lê a mensagem de despedida.

Triste ele liga o CD player do carro e escolhe ‘O último romântico’ de Lulu Santos:

Faltava abandonar a velha escola

Tomar o mundo feito coca-cola

(……)

Talvez eu seja o último romântico

Dos litorais desse Oceano Atlântico….

(……)

Deixa ser

Pelo coração

Se é loucura então

Melhor nem ter razão

Me dá um beijo, então

Aperta a minha mão

Tolice é viver a vida assim

Sem aventura…

José Luiz Ricchetti – 09/05/2021

Share this content:

thiagomelego

Jornalista por tempo de serviço, Radialista, Administrador, tecnólogo em Recursos Humanos. Estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

Os comentários estão fechados.

Proudly powered by WordPress | Theme: Content by SpiceThemes

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
error: Reprodução parcial ou completa proibida. Auxilie o jornalismo profissional, compartilhe nosso link!