Pouco sei ou nada sei – por Dr. José Luiz Ricchetti

Pouco sei ou nada sei – por Dr. José Luiz Ricchetti

cabeca-ricchetti Pouco sei ou nada sei - por Dr. José Luiz Ricchetti
57.1-Pouco-sei-ou-nada-sei-1019x1024 Pouco sei ou nada sei - por Dr. José Luiz Ricchetti

Nestes tempos de pandemia todos nós tivemos que nos reprogramar, preencher e reorganizar o nosso tempo, pois ficamos de uma maneira geral, fechados em nossas casas, saindo apenas para fazermos o essencial.

Determinada noite dessas, em que estava à frente da TV brincando de controle remoto, alternando canais, sem nenhuma convicção do que queria assistir, me deparei com uma entrevista entre duas atrizes.

De um lado a entrevistada que, no decorrer de sua vida tinha perdido dois de seus filhos e de outro, a entrevistadora, que também havia perdido seu filho, vítima de um atropelamento. 

Em dado momento, a entrevistada, quando perguntada, sobre o que mais a tinha surpreendido e marcado, logo após as trágicas perdas, ela responde que foi, quando percebeu, que apesar da sua tragédia pessoal, a vida continuava do mesmo jeito.

As demais pessoas se levantavam e iam trabalhar, os estudantes iam para a escola, os professores voltavam a ensinar, os zeladores cuidavam dos prédios, os faxineiros limpavam as ruas, o sol continuava a nascer e a se pôr todos os dias.

Ou seja, quando se deu conta, a vida continuava, apesar daquela sua grande dor e vazio que sentia no coração.

Ao ouvir aquele triste desabafo, comecei a refletir sobre o que acontece quando alguém se vai deste mundo e se muda para uma outra dimensão.

Comecei a pensar naquelas férias programadas para o final do ano que ficam, no trabalho que não foi terminado, nos capítulos sem serem vistos da séria inacabada da TV, nas planilhas do computador não totalmente preenchidas, nas dívidas não pagas, no dinheiro do banco, na roupa comprada no dia anterior, no carro novo na garagem, na família, nos amigos….

Então você percebe que quando a gente vai embora e tudo desaparece, ficam o par de havaianas, a roupa no varal, as velhas fotos do porta-retratos, os sonhos inacabados, o nosso cargo na empresa….

Tudo se dissolve, e toda aquela importância que nós mesmos nos atribuímos, se esvai, como uma enxurrada a caminho do rio.

A vida depois da nossa passagem continua, quer queiramos ou não. Ela segue seu curso, porque as pessoas acabam superando as perdas, o tempo cuida de estancar, aos poucos, as feridas da ausência, e cada um dos que ficaram retornam e seguem em frente com suas velhas rotinas.

Resta para os que ficam só a saudade daquele que foi primeiro. E é assim que tem que ser, pois a vida é breve e não é nossa, pertence a Deus!

As nossas brigas, nossas desavenças, aquele amigo que não perdoamos, a nossa falta de paciência com os filhos, a quebra da confiança, tudo fica aqui, no mesmo lugar, sem que possamos corrigir, a tempo, muitos dos erros e faltas cometidas.

Mas também ficam marcados, as coisas boas que fizemos, as amizades, o belo sorriso, a caridade feita, os bons exemplos deixados, rastros a serem seguidos.

Mas é normal que um dia, tudo acabe e se esvaia, como a água que escorre pelos dedos, ao lavarmos nossas mãos.

Só levamos conosco o que fizemos de bom, o que fizemos de mal e tudo aquilo que deixamos de fazer, por omissão. Mas também levamos conosco o amor distribuído e a caridade feita.

Enfim tudo que é material fica e tudo que é espiritual nos acompanha.

A gente vai embora e o nosso mundo continua bagunçado e louco. A nossa presença ou ausência não faz a menor diferença. A gente vai embora num piscar de olhos e o nosso cachorro se apega a um novo dono, a nossa cara metade se casa de novo, anda de mãos dadas, se apaixona e assiste filme comendo pipoca com a sua nova paixão.

Tudo se renova e é substituído como a rosa que nasce, cresce, seca e no seu lugar nasce um novo e lindo botão. Tudo renasce e é assim que tem que ser!

Na empresa somos substituídos, nossas roupas são doadas, algumas até jogadas fora.

E não há nada demais em tudo isso, pois estamos aqui de passagem, não somos donos de nada, e muito menos daqueles que partilharam conosco este sopro de vida, nesta terra.

Temos que entender que não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual, mas somos apenas seres espirituais tendo uma experiência humana na Terra.

Por isso é que temos que aproveitar cada minuto desta nossa passagem. Temos nos entrelaçar no amor, temos que vestir a nossa melhor roupa hoje, uma segunda feira qualquer.

Temos que tomar o nosso melhor vinho no meio da semana, sem esperar chegar um motivo especial. Mas também não podemos esquecer de dizer, eu te amo, a quem queremos bem e fazer a caridade ao irmão necessitado, assim que a oportunidade se apresenta à nossa frente.

Os motivos especiais são todos os dias em que podemos celebrar a vida e compartilhá-la com todos aqueles que estão aqui nos acompanhando na mesma estrada.

Aqueles amigos, os filhos, os parentes, a esposa, o marido que estão aqui no mesmo intervalo de tempo, mas que não são nossos, estão apenas emprestados para nos ensinar alguma coisa, para aprenderem com nossas experiências passadas ou para partilharmos juntos das lutas e conhecimentos que nos apresentam a vida, dia após dia.

Não somos nada! Não somos ninguém! Somos eternos aprendizes em busca do crescimento espiritual. Somos alunos deste universo de muitos mundos e muitas moradas.

Me vem na mente, agora, ao terminar esta crônica alguns dos lindos versos da música de Almir Sater e Renato Teixeira que parafraseada coloco para vocês assim:

Ando devagar, porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais e me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe….

É preciso paz, é preciso amor para poder sorrir e, quando partir, devo levar daqui a certeza, de que muito pouco sei ou que nada sei.

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega e no outro vai embora…

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thiagomelego

Jornalista por tempo de serviço, Radialista, Administrador, tecnólogo em Recursos Humanos. Estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

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