“Navegar é preciso!” Por José Luiz Ricchetti

“Navegar é preciso!” Por José Luiz Ricchetti

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Já tinha lido o livro do Almir Klink “Cem dias entre o céu e o mar” e recentemente em uma dessas revistas de bordo, durante um voo, li uma entrevista, onde ele, em determinado trecho, diz mais ou menos assim:

“Não gosto dessa cultura americana de sucesso. Todo sucesso na verdade está atrelado a um monte de fracassos. Eu fracassei muito e durante bastante tempo, pois meus projetos demoraram demais para acontecer. O sucesso, para mim, sempre era considerado só quando meu barco finalmente saía em direção ao mar.” 


Ao analisar suas palavras, além de concordar com ele, percebi também o quanto a vida tem a ver com o mundo da vela.

A vida se parece muito como o entrar de cabeça num veleiro e enfrentar o mar.

Não importa a idade física, nem o tempo do despertar da consciência, algum dia vamos todos acordar e entrar num veleiro e navegar no mar das verdades, pra valer.

E como disse Klink não deve existir, nenhum orgulho em entrar no veleiro e partir. O orgulho começa naquele “dar duro” até que tudo possa vir acontecer.

Só depois, depois de aguentar firme os ventos e tempestades e ter a pele queimada pelo sol, sentir que se aprendeu alguma coisa, é que justifica ter orgulho, o orgulho verdadeiro de quem trabalhou muito e chegou lá.

Não se pode preocupar com a viagem que está acabando, mas sim prestar atenção naquela que está por vir. Os mares navegados devem guardar as experiências e aprendizados vividos, só.

É inteligente deixar o vento levar os medos e preocupações, pois só veleja bem quem acredita no que faz, quem tem fé no trabalho e se concentra nas condições do mar de hoje, no vento que sopra aqui e agora.

Para que ter medo da tempestade? uma hora ela termina, da mesma forma que o breu, aquela escuridão infinita do mar, uma hora acaba e se transforma na luz clara e forte do sol, que se faz presente e traz o nascer de um outro dia.

Para velejar bem há que ter uma profunda paciência, para aguentar os solavancos e as batidas das ondas, até que a tempestade passe e venha a bonança.

A calmaria é o momento de aproveitar o grande silêncio do mar, penetrar a alma e lá dentro, a bombordo ou estibordo, na popa ou na proa descobrir onde estão as tormentas interiores, e procurar as saídas, pois escutar a alma sem nada fazer ou aprender é por demais inútil.

Para chegar a um porto seguro é preciso deixar que o corpo acompanhe o balanço das ondas, que a mente encontre a paz, aquela mesma vista no reflexo da lua em noite de  mar sereno e que a alma se torne tão sutil e transparente como a água clara do mar, que adorna cada grão de areia branca na praia deserta.

O bom velejador exige sempre o máximo de si mesmo, enquanto o mau velejador exige somente dos outros que o acompanham. O bom velejador tem a alma forjada na vontade enquanto o mau somente no seu desejo.

Tem que se aproveitar a força do vento tocando a vela mestra para buscar a melhor rota dentro de cada mar singrado, seja ele de águas limpas ou de águas turvas, sem esquecer que a mesma água que sustenta o barco é a que o afunda e que quem retorna de uma viagem não é mais aquele que partiu.

Velejar sempre, tendo no pensamento que o melhor objetivo da vida deve ser morrer jovem, mas sempre o mais tarde possível.

E ao chegar a um porto seguro, tem que passar aos filhos três dados importantes que não podem faltar nas viagens: cuidar da âncora familiar, ousar com a própria vela e procurar encontrar sempre o melhor vento.

Como nos disse Fernando Pessoa num trecho do seu poema -Mar Português-:

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

José Luiz Ricchetti

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thiagomelego

Jornalista por tempo de serviço, Radialista, Administrador, tecnólogo em Recursos Humanos. Estuda Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

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